STF, censura ao TL , Nobel, Globo e China em um só dia

Allan Dos Santos
3 min readOct 10, 2021
China Media Group assina memorando de cooperação com Grupo Globo

No mesmo dia que o Poder Judiciário ordenou Twitter, Facebook e Instagram que derrubassem minhas contas assim como as de minha empresa Terça Livre, a capa do New York Times, jornal que normalmente sempre encontra eco na imprensa brasileira, dois jornalistas de mídias independentes ganham prêmio Nobel da Paz para enfatizar a luta mundial pela liberdade de expressão. Os vencedores do prêmio são de países cuja tirania é comumente louvada pela imprensa brasileira — quando não é louvada, impera o silêncio. Coincidência ou não, o Brasil não tem Nobel.

Ainda no mesmo dia, um dos jornais mais lidos do Brasil noticia a morte de Danilo Santos, nas palavras d’O Globo “um dos maiores especialistas em China do Brasil’’. Na primeira linha o jornal cita a seguinte frase: “O Brasil e a China tem que ser grandes parceiros”. Segundo o jornal, a frase foi dita pelo então ministro das relações exteriores, Chen Yi, ao jovem advogado Danilo Santos, em 1966, durante sua primeira visita a Pequim. Ora, o “presidente de honra e fundador Federação das Associações de Amizade da China para América do Norte, Caribe e América Latina” estava conversando com ninguém menos que o marechal, comandante militar e membro do Partido Comunista Chinês, um dos grandes responsáveis pelo genocídio de 20 milhões de pessoas na Revolução Chinesa. 1966 também é sugestivo: ano da visita de “um dos maiores especialistas em China do Brasil”, é também o ano do inauguração do movimento revolucionário do Grupo da Revolução Cultural de Mao. O genocida convocou os jovens a “bombardear” tudo que fosse possível e afirmou que “rebelar-se é justificado”. Repito: 20 milhões de pessoas morreram na Revolução Chinesa. Se o abominável Hitler matou 6 milhões, faça as contas e tente achar um adjetivo para Mao e o colega de “um dos maiores especialistas em China do Brasil’’.

Como se a causalidade morresse, surgindo o estranho fenômeno da coincidência repetitiva, similar e constante, Mao Tse-Tung, como pode ser lido em “Os Ensinamentos de Mao Tse-Tung e a Guerra Revolucionária no Brasil”, ensina que “um comunista é um internacionalista marxista, mas o marxismo tem que assumir uma forma nacional antes de poder ser aplicado” e no Brasil a imprensa diz que o comunismo morreu. É coisa de terraplanista, repetem ad nauseam.

De fato, todo membro do Partido Comunista é treinado por anos para compreender as condições e a natureza particulares do país que deseja dominar, sabendo que se não as conhecem de modo específico, não se pode vencê-los e submetê-los aos seus caprichos. E, convenhamos, não é muito difícil compreender que na América Latina, sobretudo o Brasil, os jornalistas e os políticos amam mais a corrupção que seus próprios corpos. Até o Almirante Faller percebeu isso sem nunca ter trocado umas conversas com o General Heleno. O gringo alertou que a China está buscando um aumento dramático no comércio e nos investimentos na América Latina.

Pensou em investimentos, pensou Globo. É a maior emissora do país, afinal. O Grupo Globo — onde todos os jornalistas rezam o mantra “o comunismo morreu” — assinou com uma gigante chinesa para coprodução e tecnologia 5G, e — não pode rir alto, ok?! — a parceria com China Media Group, irá de filmes a esportes.

No livro Cartão vermelho: FIFA e a queda dos homens mais poderosos do esporte, o jornalista Ken Bensinger prova como a Globo participou de um esquema internacional de corrupção sobre a Copa do Mundo de 2022 no Qatar. O jornalista gringo afirma também que pagamentos foram feitos no mesmo esquema para garantir os direitos de transmissão das copas de 2026 e 2030. Se um membro do Partido Comunista Chinês não estivesse atento a isso, poderia deixar de ser comunista e começar a trabalhar para a Globo. Burrice suficiente já teria. Ocorre que os membros do PCCh não são burros e assinaram o contrato com a Globo em 2019.

Isso nos deixa algumas lições: a Globo sabe mesmo quem são os maiores especialistas em China no Brasil; a Globo precisa mesmo dizer que o comunismo morreu; a Globo precisa mencionar o prêmio Nobel da Paz dado a dois jornalistas independentes, enquanto chama aos jornalistas independentes brasileiros de blogueiros; a Globo precisa ser porta-voz de Alexandre de Moraes e cuidar para nunca reincidir o contrato com os chineses, pois o dinheiro que recebia de verbas publicitárias não está como na era PT.

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